Atendimento Fraterno - 1ª parte

Entrevista com Divaldo Franco sobre Atendimento Fraterno
Extraído do livro "Atendimento Fraterno"
Manoel Philomeno de Miranda e Divaldo Franco
José Ferraz: — Qual a utilidade doutrinária do serviço de Atendimento Fraterno na Casa Espírita?
Divaldo: — Receber as pessoas, orientando-as quanto às possibilidades de que a Casa dispõe em forma de recursos que são colocados às ordens daqueles que vêm até ao núcleo de iluminação espiritual, encaminhando os que têm problemas para receberem as respostas pertinentes às suas necessidades e, por fim, fazendo o trabalho educativo e fraternal de bem conduzir todos aqueles que batem às portas da Instituição Espírita.
João Neves: — É benéfico para as pessoas que recorrem à terapia dos passes serem, antes, assistidas e orientadas pelo atendente fraterno?.
Divaldo: O Atendimento Fraterno é uma psicoterapia que modifica a estrutura do problema no indivíduo que se acerca da Casa Espírita com ideias que não correspondem à realidade. Pode-se dizer que, desse contato pessoal que antecipa o passe, muitas vezes o cliente já se beneficia, sendo até mesmo desnecessária a aplicação da bioenergia.
Vivemos numa sociedade que padece conflitos psicossociais, sócio econômicos, comportamentais, cujos indivíduos têm necessidade de fazer catarse. Como o atendimento psicanalítico é muito caro e muito prolongado, no Atendimento Fraterno o indivíduo tem a oportunidade de abrir a alma ao bom ouvinte, que o pode orientar com segurança e demitizar o significado do passe. Como é natural, a desinformação atribui ao passe um caráter de natureza miraculosa, o que tem levado algumas pessoas menos esclarecidas a estabelecer o número deles para a solução de certos problemas, o que não deixa de ser um equívoco, porque se poderá aplicá-los em número infinito e, se o paciente não se transformar interiormente, de nada adiantará a terapêutica. Se ele não se abrir para assimilar as energias, faz-se semelhante a uma pedra granítica que, apesar de estar mergulhada em águas abissais por milhões de anos, ao ser arrebentada encontra-se seca interiormente.
José Ferraz: — Quais são os requisitos indispensáveis para que uma pessoa, na função de atendente fraterno, possa sintonizar com os Bons Espíritos?
Divaldo: — A condição essencial é a boa moral. Do ponto de vista espiritista o requisito moral do indivíduo é relevante, imprescindível. Utilizamo-nos de um brocardo popular: “Diz-me quem és e eu te direi com quem andas; diz-me com quem andas e eu te direi quem és”. Ir a Deus através da prece é outra condição, pois se abrem os canais psíquicos para uma perfeita sintonia com o Mundo Espiritual que nos assiste no atendimento às criaturas da Terra.
Além desses caracteres essenciais, além dos valores morais, é imprescindível o conhecimento da Doutrina Espírita. Não se pode propiciar um bom atendimento fraterno na Casa Espírita, sem que se conheça o Espiritismo, o que seria paradoxal, falando-se de uma coisa com a qual não se está identificado.
O conhecimento amplo da Doutrina Espírita é um requisito que tem caráter primacial, porque a pessoa irá falar a respeito daquilo que é a essência da Doutrina a fim de que o cliente recém-chegado se inteire do que pode conseguir.
Um bom tato psicológico é necessário. A capacidade de saber ouvir é valiosa, porque o cliente, normalmente, quer falar. Na maioria das vezes, não deseja ouvir respostas, quer “desabafar”, como muitos o afirmam, porque, na falta de uma resposta para o problema, ele necessita de alguém que o ouça. Então, o atendente deve possuir esse tato psicológico para dar oportunidade ao visitante de liberar-se do conflito. Evitar, quanto possível, que ele fale de questões íntimas, de que se arrependerá depois, quando passar o problema. O Atendimento Fraterno não é um confessionário. Como o próprio nome diz, é um encontro, no qual se atende fraternalmente àquele que tem qualquer tipo de carência.
Com tato psicológico pode-se desviar, no momento oportuno, uma questão que seja inconveniente e interromper o cliente na hora própria, a fim de que não se alongue demasiadamente, gerando um “élan” de afinidades entre o terapeuta do atendimento e aquele que o busca, evitando produzir-se o que, às vezes, ocorre entre o psicoterapeuta convencional e o seu paciente. O atendente fraterno deve manter-se em condição não preferencial por pessoas, numa neutralidade dinâmica, como diria Joanna de Ângelis, porque todos são iguais — diz a Justiça — perante a Lei. A todos, então, que tem problemas e nos buscam, deveremos atender com carinho, sem preferências, sem excepcionalidades e sem absorvermos o seu problema, para que ele não se torne um paciente nosso e não transfira todos os seus desafios para nossa residência. Não poucas vezes, o mesmo perguntará: — Quando eu tiver um problema posso telefonar-lhe? — Não — será a resposta — em casa eu tenho outros compromissos; você virá quando necessitar, aqui ao Atendimento.
João Neves: — Pessoas há, que embora interessadas nas orientações do Atendimento Fraterno, estão tão presas às ideias fixas, que dificultam a absorção da orientação. Como fazer, para ajudá-las a desviar essas fixações?
Divaldo: — Deixar, primeiro, que falem. O primeiro encontro é sempre muito difÍcil. A pessoa vem com muitas idéias que não correspondem à realidade; ou vem céptica, e fala com certa indiferença; ou vem fascinada pela hipótese de ter o problema resolvido no primeiro encontro. Então acha que pelo fato de estar numa Casa Espírita, os seus problemas já não mais irão afligi-la. Essa pessoa, no momento em que começa a falar, deveremos deixá-la expor a sua dificuldade por alguns instantes e, logo depois, interrompê-la, informando-a: — Agora você vai me ouvir. Se a pessoa insistir, afirmaremos: — Você não veio para me doutrinar, mas sim para pedir conselhos, que eu vou lhe dar. Agora vai depender de você aceitá-los ou não — evitando assim, que a pessoa transforme o Atendimento Fraterno num rosário de queixas. Poderemos dizer também: — Até aqui a sua vida foi dessa forma; neste momento abre-se-lhe uma etapa nova. É necessário que voce me ouça, para poder ver as possibilidades que estão ao seu alcance. Agora pare, e ouça as sugestões que tenho e que são induções simples. Joanna de Ângelis, a nossa Mentora, diz o seguinte: — Tudo começa no pensamento. Toda vez que um pensamento for perturbador, substitua-o por outro que seja positivo.
Se a criatura disser: — Mas, eu não posso...
Responderemos: — Você não quer; mas é o quanto nós lhe podemos dar; além disso, não lhe prometemos nada. Não lhe oferecemos aquilo que não podemos doar, porquanto não estamos aqui para enganar as pessoas. Evitar-se, ao máximo, essas expressões de natureza prodigiosa, que martirizam o paciente, dando-lhe informações que ele não tem capacidade para digerir.
Diante de uma pergunta: - Será que eu sou obsidiado? — responda-se com honestidade: — Não sei. — Será que existem comigo obsessores? — Eles só estão em contato conosco, porque estamos em sintonia com eles...
Evite-se, tanto quanto possível, aumentar-lhe a carga de aflições com informações indevidas ou que podem não corresponder à realidade.
José Ferraz: — Os bons Espíritos ajudam as pessoas que buscam o Atendimento Fraterno? De que forma? Fale, particularmente, sobre a desobsessão na nossa Casa.
Divaldo: — Todo aquele que sobe a um planalto, mesmo que não se dê conta, aspira oxigênio puro; quem desce ao vale, onde existem pântanos e matéria em decomposição, mesmo que o não perceba impregna-se de miasmas. A Casa Espírita é o planalto no qual podemos comungar com Deus. É o oásis refrescante na severidade adusta da terra sáfara. É a ilha generosa no oceano tumultuado das paixões. Quando alguém se adentra pela Casa Espírita — e aqui fazemos uma generalização, estendendo a qualquer templo de fé religiosa — é amparado pelos Espíritos que têm ali a tarefa de preservar o nome de Deus, o Seu valor diante das almas e, no caso específico do Cristianismo, a presença de Jesus, que prometeu nunca nos deixar órfãos.
Quando chegamos à Casa Espírita, as Entidades benevolentes e caridosas dispõem de Espíritos outros que se encarregam de vigiar, de proteger o recinto humano e o espiritual. Fazem programas, utilizando-se de Entidades com capacidades magnéticas para impedir a entrada de outras, perturbadoras, obsessoras, assim também de pessoas que causam transtorno, tumulto e generalizam desequilíbrios, o que é patente em nossas Casas, como noutras congêneres.
A nossa Instituição tem as portas abertas a quem quer que sej a, e todos somos testemunhas de que jamais aconteceu qualquer coisa desagradável, face à massa que a freqüenta, e que pode trazer psicopatas, dependentes quí micos de drogas, de álcool, desajustados, porque as defesas magnéticas estabelecidas, de alguma forma impedem-lhes a entrada, da mesma forma que as defesas espirituais impossibilitam a penetração de Espíritos perversos que, às vezes, estão acompanhando os seus hospedeiros. Eis porque, aí já começa a desobsessão...
A presença dos bons Espíritos e o atendimento que fazem logo modifica a estrutura psíquica dos pacientes, afastando as Entidades malévolas que os irão aguardar àsaída, fora dessas defesas magnéticas.
Quando os visitantes saem tumultuados, ansiosos para voltar a casa e recuperar os pensamentos negativos com os quais vieram — e momentaneamente os deixaram, ouvindo a palestra ou recebendo a orientação — volvem às viciações psíquicas, e assim atraem, de retorno, os seus comparsas, prosseguindo o problema.
Essa é uma desobsessão coletiva.
Nas conferências, nas aulas, em quaisquer instruções dignificantes, enquanto o público se concentra na proposta elevada, os bons Espíritos aplicam energias corretivas, libertadoras, naqueles que estão vinculados à ideia superior, realizando, desse modo, igualmente, a terapêutica desobsessiva.
Em nossa Casa, em particular, e em outras, no sentido genérico, os Benfeitores, ao verem o paciente que veio para o Atendimento Fraterno, observando a sua carência real, a sua angústia, a sua honesta necessidade de mudar, anotam quais os perseguidores que os afligem, e trazem-nos, em particular e discretamente, às sessões mediúnicas para tratamento desobsessivo.
Eles me apresentam verdadeiros livros onde registram os endereços das pessoas que pedem visitas, e as atendem. Determinam Espíritos que acompanham aquelas que pediram socorro, e que permanecem por longo período ao lado delas. Mesmo que qualquer uma mude de idéia, o seu acompanhante continua dando-lhe assistência até o momento em que o quadro se modifique.
Aquele Espírito assistente torna-se o comunicador das Entidades que mourejam na Casa Espírita e que passam a ter conhecimento de como vai o processo de recuperação do cliente, que antes veio pedir socorro. Isso começa, portanto, quando nos adentramos na Casa Espírita ou noutro templo de fé, mais particularmente quando nos encontramos em atendimento fraterno, porque os bons Espíritos estão acompanhando-nos e, percebendo a gravidade, maior ou menor, de nosso problema, removem aqueles Espíritos perturbadores e os trazem à doutrinação.
Ocorre, com muita freqüência entre nós, essa doutrinação sem a presença do paciente, o que é perfeitamente compreensível. Estar ali participando não é necessário para a sua recuperação, impondo-lhe assistência à reunião mediúnica.
Desse modo, o Atendimento Fraterno também tem o caráter de desobsessão lúcida, porque o atendente funciona como doutrinador e o paciente como beneficiário.
João Neves: — Na sua experiência tão vasta de atendente fraterno, quais as causas preponderantes que desencadeiam as aflições humanas?.
Divaldo: — O egoísmo, seria a resposta de Allan Kardec. O egoísmo é o câncer da sociedade, porque é ele que desencadeia outros distúrbios em nossa área espiritual. Éo egoísmo que responde pela nossa agressividade, porque ele nos leva ao egocentrismo, ao direito de crer que somos o centro do Universo, e de merecermos tudo e todos, tornando-nos soberbos. O ciúme também é causa infeliz, porque nos faz pensar que somos proprietários uns dos outros, dos objetos, das ocasiões e das circunstâncias; o ódio a todo aquele que não concorda conosco e nos agride é fator dissolvente e desprezível; a revolta e, conseqüentemente, a cólera fulminante, que abre espaço ao ódio, constituindo-se elemento pernicioso.
Graças a esses fatores, as enfermidades se nos alojam com mais facilidade, porqüanto o egoísmo produz enzimas destrutivas, que vêm perturbar o metabolismo e facultam campo para a instalação de doenças degenerativas. Ao mesmo tempo, torna-nos distônicos, e passamos a ter problemas psicológicos, abrindo ensejo para a vinculação com as Entidades perversas, malévolas, tendo início aí os processos de obsessão. A Psico-neuro-imunologia identificou que possuimos na saliva uma enzima que protege o nosso organismo de infecções viróticas — a imunoglobulina. O egoísta é introspectivo, apaixonado, indiferente aos problemas alheios. Produz toxinas que impedirão a fabricação da imunoglobulina, deixando-o a mercê das doenças.
Por isso, Jesus ofereceu como terapia fundamental o amor, porque, quando se ama, sai-se de si para poder tornar-se ütil; o individuo esquece seus próprios problemas para contribuir pela diminuição dos alheios. Quando começamos a amar, a vida iridesce a paisagem, que se apresenta enriquecida, e as nossas pequenas dores tornam-se menores diante do volume de aflições que desgovernam o mundo.
Jesus sintetizou tudo isso de uma forma muito bela, quando os discípulos afirmaram que Ele sempre atendia as criaturas tomado por compaixão. Não esse sentimento de piedade vulgar, mas, com a paixão de ternura, com o desejo veemente de modificar aquela situação. É esse sentimento de amor que ajuda e faz que se entesoure os recursos para diminuir os sofrimentos humanos.